Redes sociais e o ser humano

Redes sociais e o ser humano

O Psicólogo e mestre em educação, Vinícius Branquinho, em seu artigo enviado ao Vatican News, falou-nos sobre o comportamento humano nas redes sociais. Apresentou-nos alguns pontos que chamam nossa atenção com atitudes que podemos não estar percebendo, e ressaltou também a importância de alguns bons relacionamentos possibilitados por meio das redes sociais.

Vinícius Branquinho – São Paulo

As redes sociais fazem parte da vida cotidiana há pouco tempo dentro da história da humanindade, e apesar disso já ocupam o dia da maioria das pessoas. São muitos jeitos: Facebook, Instagram, WhatsApp, Twitter, Telegram, entre outros. A constituição da personalidade humana, ou seja, a forma e o conteúdo de cada um pensar, sentir e agir tem como base constituinte as suas vivências e relações interpessoais ao longo da vida. Essa formação acontece em movimento contínuo, portanto, o ser humano está sempre em desenvolvimento.

 Cada indivíduo é um ser social e as relações humanas constituem a porta de entrada para o desenvolvimento de cada pessoa. Nas redes sociais é possível este relacionamento entre duas ou mais pessoas, e pode ou não contribuir para um desenvolvimento saudável do indivíduo que ali está inserido.

Uma das principais aderências ao uso das redes sociais é a interação que elas propiciam. Este tipo de comunicação modificou radicalmente os relacionamentos humanos na sociedade contemporânea e condicionou novas formas de pensar, sentir e agir na realidade. As pessoas que mais utilizam as mídias sociais são jovens e adolescentes, contudo, esse panorama tem se alterado com o tempo e cada vez mais cedo as crianças já têm perfis nas redes sociais, além dos idosos, que também aderiram a essa modalidade de interação.

A personalidade humana, em constante formação, sofre influência da utilização dessas redes, que alteram a forma de ação inclusive fora delas. As redes sociais acabam por mediar a relação do sujeito com a realidade. Em alguns casos, podem alterar até a forma de se comportar. É importante ressaltar que a verdadeira e melhor comunicação ainda acontece no presencial, e a intensidade da utilização das mídias sociais prejudica a possibilidade de uma comunicação efetiva com o outro.

Entender o uso das redes sociais leva à compreensão do sentido que as pessoas atribuem, seja para interação, para utilizar em um empreendimento ou para não ser esquecido. Vive-se em um meio onde quem não posta não é lembrado, não existe, criando-se uma necessidade de se mostrar cada vez mais e de muitas vezes aparentar para os outros aquilo que não se é no íntimo.

De muitos modos, quanto mais uma pessoa busca se evidenciar, mais coisa ela pode estar escondendo, e isso não muda dentro do âmbito virtual. A maioria dos perfis mostram uma vida perfeita, motivacional, que chegou ao auge, só que escondem as dores, sofrimentos e indisposições decorrentes de sua vida e que atingem a todos indiscriminadamente. A busca por visibilidade constante dentro das redes sociais pode esconder a dificuldade de se relacionar no mundo real e agravar ainda mais a comunicação do sujeito.

O Instagram, por exemplo, pode potencializar estados depressivos e de ansiedade a partir da comparação feita com pessoas que mostram uma vida perfeita nas limitações dessa rede. Alguém, ao notar isso e comparar com sua própria vida, pode criar maiores dificuldades e sofrimentos psicológicos. Inclusive, já existem alguns estudos e pesquisas sendo realizadas sobre isso. Contudo, a compreensão científica das consequências do uso das redes sociais será apenas a longo prazo. Dados apontam que o Instagram é a rede social que mais cresce no Brasil, mas ainda fica atrás em relação ao Facebook e WhatsApp.

A facilidade para entrar em contato com qualquer pessoa e também excluí-la denota uma relação nas redes sociais que está cada vez mais latente em nossa sociedade, marcada por uma relação mercadológica, em que cada pessoa é vista como mercadoria e os relacionamentos são pautados em referência ao que o outro tem a oferecer. Isso diminui o olhar de cada um para com os outros, que são destituídos de ser pessoas e se tornam apenas objetos para serem usados, o que não acontece apenas no meio virtual. Este fator intui na ação de: “se tal pessoa não me oferece o que eu quero, eu posso trocar por outra”, o que acaba ocorrendo em relações de amizade e nas relações afetivas/amorosas.

Como quase tudo na vida, as redes sociais também têm seus aspectos positivos. Elas possibilitam interações a distância que antes de seu advento seriam praticamente inviáveis, aproximam famílias e amigos que moram longe, lançam uma nova configuração para os relacionamentos amorosos e dão a possibilidade de um crescimento pessoal e até do seu negócio que antes eram impensáveis. O cuidado é para que essa aproximação não substitua contatos verdadeiros e pessoais, onde, na verdade, acaba existindo mais um isolamento do que uma aproximação.

Ninguém está dizendo para não utilizar mais as redes sociais, pelo contrário, conhecer algumas de suas consequências negativas possibilita uma atuação com liberdade dentro desses meios e assim dominar seu uso e não se tornar escravo. Ou seja, usufruir desses aparatos a seu favor e buscar suas vantagens para se aproximar verdadeiramente das pessoas, fazer novas amizades, e não para usar o modo de viver de outra pessoa como parâmetro ao seu. Por isso, existe a necessidade de um equilíbrio cada vez maior dentro da internet, o que gera a possibilidade de que seja um campo frutuoso de relações fecundas e verdadeiras.

Vinícius Branquinho é psicólogo e mestre em educação.

Dados sobre crescimento do uso das redes sociais no Brasil: https://abemd.org.br/noticias/infografico-mostra-perfil-do-usuario-brasileiro-no-instagram

Fonte: Vatican News

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