Da Cruz,  o verdadeiro campo de batalha e lugar da vitória,  à Igreja, onde celebramos os frutos da vitória,  a Ressurreição do Senhor!

Da Cruz, o verdadeiro campo de batalha e lugar da vitória, à Igreja, onde celebramos os frutos da vitória, a Ressurreição do Senhor!

Que vitória é essa de Cristo que nós cantamos? De fato, cantamos uma vitória mais profunda que a ressureição física do Senhor. Cantamos a vitória alcançada na cruz, uma vitória que resgata toda nossa existência, corpo, alma e espírito.

E, nessa vitória que se realiza na Cruz, o que importa é jamais separarmos o Cristo ressuscitado e o Cristo crucificado. Não podemos separar o Calvário do Sepulcro vazio. Precisamos dos dois eventos para que haja uma autêntica páscoa, a passagem.

Contudo, não basta saber que vitória é essa que cantamos. Precisamos saber quando aconteceu essa vitória de Cristo.

Tomemos como figura a imagem de um general em guerra. Quando um general entra vitorioso na sua cidade, a sua vitória cantada não acontece na entrada triunfante em sua cidade. A celebração é consequência da vitória realizada no campo de batalha. Nesse sentido, a vitória se dá antes da celebração. A vitória se dá em meio à luta, ao suor derramado, ao sacrifício selado.

Saindo da ficção e chegando à realidade, da mesma forma, em Cristo, a vitória se dá na Cruz, lugar da batalha, do sacrifício, do sofrimento. Este é o campo de batalha onde se enterra a bandeira da vitória.

Na liturgia pascal da vigília de páscoa, reconhece-se essa vitória na Cruz já prefigurada em Israel. Nesse sentido, a palavra proclamada faz memória da escravidão do povo sob o jugo do Faraó. Essa é a miséria que os pais na fé viveram e que Deus fez cessar.

O novo faraó é o pecado. Cristo cessou em nós o poder do pecado, nos desligou do jugo de satanás, o novo Faraó. Aquela escravidão prefigurada no Egito agora é manifestada na nossa história e, da mesma forma, cessada pela vitória de Cristo na Cruz.

Essa é a miséria que vivíamos ante de Cristo entrar na nossa vida. Antes escravizados, como o povo de Israel nas garras do faraó; antes, sob o jugo do demônio. Antes, vitoriosos na batalha que faz o povo passar a pé enxuto pelo Mar Vermelho, afundando cavalos e cavaleiros; agora, vitoriosos pela Cruz de Cristo, que salva todo o universo.

A Igreja torna-se a voz do universo, e a luz do Círio abre nossos ouvidos para proclamar o Exultat: que exultem os anjos, pois os lábios humanos não são capazes de cantar sozinhos a vitória de Cristo.

Nessa noite, resplandece a glória de Deus. Mas o que é a gloria? A glória é o brilho de uma virtude. A pessoa é virtuosa: paciente, amorosa, honesta, sincera, bondosa, dentre outras virtudes. Essa pessoa, em razão de sua humildade e discrição, preserva seus dons de virtude; e, de repente, realiza um ato virtuoso. E quando se vê, então se manifesta a glória. Um ato brilha, e apenas uma é necessário dar gloria, louvar, bendizer. Gloria é quando algo de virtuoso brilha.

Quem tem um tesouro escondido e, quase sem querer, manifesta uma virtude, faz brilhar por um momento o bem, o belo e o bom. Então, a glória aparece e, por entre os lábios, ressoa o júbilo: hosana!

Se grande é a alegria, até dos anjos, quando um ato de virtude aparece, quando um brilho do bem aparece, imaginem o que celebramos nesta noite. O ato supremo de virtude de Cristo, que se dá no seu amor a todos nós, faz resplandecer todas a virtudes.

A Cruz, que parecia um ato trágico de fraqueza, acompanhada pelo trabalho dos ministros do demônio desde de Judas, o traidor, passando por Herodes até Pilatos, transforma-se na maior de todas as virtudes.

Satanás, estupidamente, achou que havia sido vitorioso ao contemplar o Senhor pendido do alto da Cruz. Sim, a maldade torna as pessoas estúpidas. Ele achou que, crucificando Cristo, seria o seu triunfo. Mas, na verdade, foi sua derrota. A derrota de Satanás aconteceu na hora da morte virtuosa do Senhor. Naquele campo de batalha, Jesus, o Kyrie, plantou a bandeira do Reino novo, do Reino de Deus.

Naquela morte, seu grande amor nos libertou do antigo novo Faraó, da antiga serpente. A cruz esmagou a cabeça da soberba, do mal, da desumanização da humanidade.

Na hora em que morre Jesus, os infernos gemem, e a vitória do Senhor torna-se a confusão de Satanás. Nós vencemos a guerra, fomos salvos e libertos do Faraó, de seus carros e cavaleiros. A água que desceu do lado de Jesus afogou o mal. O Cordeiro imolado, aquele que nos amou até o fim, nosso Senhor venceu. Eis a vitória de Cristo. Eis o campo de batalha, onde se deu a derrota do mal.

Agora cabe-nos receber o Senhor em sua glória. O General vitorioso e triunfante, nosso Salvador levantou-se dos mortos e entra pelas portas de sua Cidade Santa, sua Igreja. Eis a noite santa quando Ele mostrou a sua glória e a sua Esposa o glorifica. Uma glória escondida aos olhos humanos, mas revelada para aqueles que creem.

Os que não creem apenas podem enxergar fracasso. Assim, foi o que pareceu aos discípulos de Emaús, aos discípulos amedrontados no cenáculo. Todas as suas esperanças humanas foram despedaçadas.

Foi necessário que a luz da gloria nos atingisse, que o Espírito nos revelasse que a cruz foi o verdadeiro campo de batalha. Ali vencemos. E a ressurreição foi manifestação dessa vitória acolhida.

Assim, com as velas nas mãos, exultemos pela vitória do Senhor e nos unamos ao campo de batalha, renovando, a cada dia, nossas pequenas batalhas, nossas cruzes diárias, mas sabendo, na certeza de quem tem fé, que a vitória já conquistamos pela Cruz salvadora de Cristo.

Amém, Amém, Amém, e uma Feliz Páscoa!

Pe. Francisco Júnior, sss

Pároco e Reitor
Santuário Arquidiocesano de Adoração

Paróquia São Benedito e N. S. do Patrocínio

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