Carta de pedido de perdão da Co-Fundadora da Comunidade Católica Shalom – Emmir Nogueira – à sua afilhada Maria Tereza, que nasceu com anencefalia e viveu 103 dias:
“Querida Maria Teresa,
Faz tempo que a gente não se vê, mas estou certa de que se lembra de mim. Quanto a mim, não conseguirei esquecer você enquanto eu viver. Parece que estou vendo o dia em que você nasceu, a primeira vez que a tomei nos meus braços, seu primeiro chorinho. Também é nítida em minha memória a primeira vez que sua mãe a amamentou depois das horas iniciais de corre-corre dos médicos que, fiéis ao seu juramento, lutaram por sua vida.
Vêm-me à memória cenas da UTI: sua mãozinha segurando o dedo do seu pai, devidamente paramentado de máscara e bata, a rezar por sua sobrevivência; seu pediatra, homem de extraordinária fé, a fazer o curativo em sua cabeça, temeroso de infecções e complicações indesejáveis e perigosas. Era preciso, a todo custo, salvar sua vida!
Toda a comunidade rezou por você, seus pais e irmãos, avós e tios. Foram feitas adorações, rezadas dezenas de rosários, celebradas dezenas de missas. Foram feitos jejuns e penitências. Foi nosso jeito de lutar por sua vida preciosa para todos nós.
Seus pais e avós, com seu comportamento heroico de fé desde sua gestação, revezaram-se na UTI, depois, no apartamento do hospital e, finalmente, em casa. Seus três irmãos não tinham outro assunto a não ser sua chegada iminente.
Em nenhum momento você foi abandonada. Nem por nós, nem por seus médicos e enfermeiros. Você era “a princesinha”. Com alegria e louvor corriam por toda a comunidade as pequenas notícias de sua vida iniciante:
“Maria Teresa continua mamando bem”;
“Maria Teresa pegou bem a chupeta”;
“Maria Teresa urina e defeca normalmente”;
“Maria Teresa, além de mamar, está recebendo complemento de leite e suga bem a mamadeira”;
“Maria Teresa recebe o cuidado dos irmãozinhos”.
Corriam velozes também suas fotos com sua família “coruja”.
Momento especialíssimo foi seu batizado, ainda na UTI. Tive a honra incomparável de ser sua madrinha. Como sabíamos que você poderia não resistir, resolvemos batizá-la momentos após o seu nascimento, como aconteceu com tantos santos. Queríamos você no céu, onde está agora, pois nunca pecou.
Para surpresa geral, especialmente dos médicos, você foi crescendo, engordando, progredindo. Seu bercinho ficava no quarto de seus pais e são muito belas as fotos em que eles a olham com imenso carinho, com o mesmo olhar das fotos dos seus irmãos ainda bebês, inclusive o que nasceu depois de você. É o mesmo olhar, o mesmo amor, a mesma ternura, a mesma esperança.
Poucos dias antes de seus quatro meses de vida, seu pai me ligou. Você não respirava muito bem. Corri para sua casa. Logo em seguida chegou tio Moysés e, minutos depois, seu dedicadíssimo pediatra, Dr. Alberto Lima, que cuidou de você com desvelo incomum. Nunca disse que você não existia. Entendia, como nós, que a essência, criada por Deus, precede a existência, dada por Ele e não o contrário, como pensam os materialistas.
Você mamou uma última vez e, em meio às orações e louvores de todos por sua vida que renovara as nossas, você faleceu, nos braços de sua mãe, acariciada por ela, por seu pai e seus irmãos.
Assim como sua vida, foi inesquecível seu velório, na sua comunidade, em meio a orações de louvor. Era nossa forma de dizer que cremos na vida e que sua vida foi muito cara para nós, um grande e inesquecível dom de Deus.
Mas essa carta, Maria Teresa, é para pedir-lhe perdão. Como sabe, o STF acaba de aprovar o aborto de anencéfalos, como você. Tanto a comunidade como seus pais e médico fizemos tudo para evitar isso. Havíamos convivido com você! Havíamos amado você! Havíamos acompanhado seus progressos! Cremos em Jesus Ressuscitado! Cremos na vida! Cremos no valor da vida! Sabemos que ela existe desde o momento da fecundação! Esses são fatos concretos palpáveis! A vida está imensamente acima do que consideramos “saúde” e “perfeição”. Ela é eterna! Saúde e perfeição passam como um sopro. A vida lhes é imensamente superior!
Seus pais foram a Brasília com sua história, sua foto.
A Shalom Maná publicou sua história e a ilustrou com a felicidade de sua família.
Seus pais e irmãos deram testemunho no Brasil e fora do país.
Eu mesma escrevi a parlamentares falando de você, da fé, da beleza da vida.
A Igreja do Brasil entrou em oração humilde e suplicante diante do Santíssimo exposto.
Mais uma vez, porém, ficou comprovado o sagrado respeito de Deus pela liberdade humana!
Durante a votação de dois dias, sete dos juízes do STF optaram por tirar sumariamente o direito à vida de milhões de crianças como você!
Bem que o Cesar Pelluso tentou, com brilhantismo! Em vão.
Bebês anencéfalos e com outros tipos de limitações saem caro para o Estado.
É mais fácil eliminá-los sob máscaras hipócritas.
Perdão, Teresa. Querida Teresa. Amada Teresa. Inesquecível Maria Teresa. Perdão por terem afirmado que você nunca existiu, que não teve vida, que não era vida! Perdão por ignorarem sua certidão de nascimento, seu nascimento, seu Batismo, suas fotos, a alegria, esperança, união e imensa ternura que nos trouxe. Perdão, querida!
No céu, onde sua vida existe eternamente, onde você vive o Batismo que não lhe foi negado, onde você vê elevada à glória de Deus o amor que deu e recebeu durante a vida, reze por essa nossa Terra da Santa Cruz. Você sabe: primeiro, veio o aborto dos bebês gerados em estupros, agora, os anencéfalos; os outros passos não são difíceis de imaginar: bebês com más formações, seleção de zigotos, risco de vida da mãe, aborto totalmente liberado.
Reze, Teresa, converse com o Menino Jesus e com a Mãe dele, de quem trazemos o nome.
Reze por nós! Que, na Terra da Santa Cruz, na Terra da Vera Cruz, a cruz seja usada como símbolo de verdade, de vitória, de amor, de entrega de vida, de disposição amorosa ao sacrifício e não como sentença de morte imputada a inocentes.
Perdão! Reze por nós!
Beijo! Saudades!
Sua Madrinha, Maria Emmir.”