Já são 10.141 infectados e 4.922 mortos, em oito países, segundo os últimos números divulgados pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Um continente que sofre, há décadas, os males de uma doença com até 90% de letalidade, de fácil contágio (através de secreções) e que exige excelentes condições estruturais para o tratamento. A África vive a pior epidemia de ebola desde o surgimento do vírus, em 1976. Os casos em surtos passaram de 300 para 8 mil e chegaram mais longe, com pelo menos 17 pessoas contaminadas tratadas em outros países. O mundo está com medo e há razões para isso: nenhum medicamento ou vacina tem respaldo científico para uso em humanos e, apesar de os médicos restringirem a disseminação do vírus, o surto da doença já é considerado emergência de saúde pública de alcance mundial.
O ebola foi registrado pela primeira vez há 38 anos nas comunidades do Sudão e do Congo, seguido por ocorrências em um vilarejo próximo ao rio que daria nome à doença. Este ano, a recorrência de pessoas infectadas se deu em uma dimensão inédita e abrangeu fronteiras dos países Serra Leoa, Libéria e Guiné. O ebola, antes restrito à pobreza e precariedade do atendimento à saúde africano, chegou então aos Estados Unidos e à Espanha. No Brasil, dois casos suspeitos chegaram a ser identificados e, ambos, foram descartados.
O tripé formado pela seriedade da doença, os anos de descoberta do agente infeccioso e a necessidade de investigação científica – que poderia ter salvo milhares de vidas – nunca aconteceu. Os esforços mundiais que hoje tentam impedir a expansão do vírus não chegaram rápido o bastante para reforçar o atendimento hospitalar em tendas, a escassez de agulhas e remédios e o abandono da saúde na África. Hoje, o conhecimento científico para sinais clínicos do ebola é restrito. Há pesquisas acerca de duas vacinas, ainda sem utilização, e de três medicamentos que, mesmo sem comprovações científicas sobre seus efeitos toxicológicos, já têm sido utilizados em algumas pessoas infectadas.
O ebola amedronta principalmente por sua capacidade de enganar o sistema imunológico. Sem proteção, células e tecidos podem ser severamente atingidos. Alterações de coagulação sanguínea provocam febre hemorrágica em 30% a 50% das pessoas infectadas. As complicações que levam à morte, entretanto, dependerão das defesas do organismo de cada um. Na África, onde grande parte da população sofre de desnutrição, o vírus acabou não encontrando nenhuma barreira.
Fonte: Jornal O Povo