“O nosso Salvador instituiu na última Ceia, na noite em que foi entregue, o sacrifício eucarístico do seu Corpo e do seu Sangue para perpetuar pelo decorrer dos séculos, até Ele voltar, o Sacrifício da cruz, confiando à Igreja, sua esposa amada, o memorial da sua morte e ressurreição: sacramento de piedade, sinal de unidade, vínculo de caridade, banquete pascal em que se recebe Cristo, a alma se enche de graça e nos é concedido o penhor da glória futura”(Constituição Sacrosanctum Concilium, nº 47).
O que o Salvador instituiu na noite em que foi entregue, é o dom de si mesmo, levado pelo seu amor extremo: “Antes da festa da Páscoa, Jesus, sabendo bem que tinha chegado a sua hora da passagem deste mundo para o Pai, Ele, que amara os seus que estavam no mundo, levou o seu amor por eles até ao extremo”(Jo 13,1). A instituição da sagrada eucaristia, é o dom do Amor em Pessoa, é Deus que se dá a si mesmo no sacramento da Páscoa de Cristo. Jesus institui este sacramento por um rito que perpetua o dom da sua vida em sacrifício de expiação pelos pecados e traduz este seu sentido por um gesto de serviço, o lava-pés.
A refeição memorial da Páscoa judaica permitia ao povo de Israel recordar a sua aliança com Deus e de reviver pelo rito a intervenção real e eficaz de Deus na sua história. Na tarde de quinta-feira santa, Jesus sabe que leva ao seu cumprimento o memorial da refeição pascal judaica: toma o pão, pronuncia a bênção e diz. “Tomai e comei todos: ‘Este é o meu corpo entregue por vós’”; depois toma o cálice com vinho e diz: “Tomai e bebei todos: ‘Este é o meu sangue derramado por vós’”. Fazei isto em memória de mim. Por estes gestos e palavras, Jesus institui um novo rito, o seu rito pascal, pelo qual ele se substitui ao cordeiro tradicional dando-se e sacrificando-se por amor. O seu acto de amor realiza a nova aliança no seu sangue, libertando a humanidade do pecado e da morte.
É sempre impelido por este mesmo amor que Cristo ressuscitado, no poder do seu Espírito, atualiza o dom da sua eucaristia cada vez que a Igreja celebra o rito que dele recebeu na última Ceia, na véspera da Paixão. Celebrando este rito sacramental, a Igreja está intimamente associada à oferenda de Jesus Cristo e portanto ao exercício da sua função sacerdotal para o culto de Deus e salvação da Humanidade. “Em tão grande obra que permite que Deus seja perfeitamente glorificado e que os homens se santifiquem, Cristo associa sempre a si a Igreja, sua esposa muito amada, a qual invoca o seu Senhor e por meio dele rende culto ao Eterno Pai” (Sacrosanctum Concilium. nº 7).
A instituição da eucaristia contém em si um profundo mistério que transcende a nossa capacidade de compreensão e as nossas categorias. É o mistério da fé, por excelência. A Igreja alimenta-se dela sem cessar, porque dela vem a sua razão de vida e a sua razão de ser. Na última Ceia, Jesus entrega-lhe como presente a sua presença sacramental, que é uma presença “real e substancial ”(Cf. Dictionnaire de théologie catholique, V, 2ª partie, “Eucharistie d’après le concile de Trente”, col. 1333,3), embora escondida sob os humildes sinais do pão e do vinho. Deu-lhe acolhimento perpétuo, brotando sem cessar do seu Coração eucarístico, a sua declaração de amor e o dom do seu corpo e sangue como um acontecimento sempre novo que estava a ponto de se produzir. É este o sentido profundo do “memorial” que, como já acontecia na tradição judaica, tem o sentido de acontecimento objectivo e não somente o de um ato subjetivo da memória do passado. A celebração do memorial mergulha os participantes no mistério da Páscoa do Senhor.
Fonte: A Eucaristia – Dom de Deus para a Vida do Mundo. Documento Teológico de Base para o 49º Congresso Eucarístico Internacional, de 15 a 22/06/2008, realizado em Quebec, Canadá.