No passado dia 24 de maio, o Papa Francisco assinalou o quinto aniversário da Encíclica “Laudato Si” lançando um ano especial que decorrerá até maio de 2021 com o objetivo de “chamar a atenção para o grito da terra e dos pobres”. O ano dedicado à ‘Laudato si’ é promovido pelo Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral.
Recordemos que o documento do Papa publicado em 2015 desenvolve um conceito concreto: ecologia integral, novo paradigma de justiça. Em tempo de pandemia redobrou a importância deste tema e da iniciativa do Papa de dedicar um ano à reflexão e à ação ecológica e social.
Pela casa comum
No âmbito do ano “Laudato Si” foi publicado pelo Vaticano, neste mês de junho, um documento com o título ‘A caminho para o cuidado da casa comum – Cinco anos depois da Laudato Si’. Trata-se de um texto elaborado pela “Mesa Interdicasterial da Santa Sé sobre ecologia integral”, organismo criado em 2015 para analisar como promover e implementar a ecologia integral. Os participantes deste organismo são instituições ligadas à Santa Sé envolvidas nesta área e algumas Conferências Episcopais e Organismos Católicos.
Este documento, embora tenha sido elaborado antes da pandemia da Covid-19, destaca que tudo está ligado, não há crises separadas, mas uma única e complexa crise ambiental e social que requer uma verdadeira conversão ecológica.
Desde logo, é apontada a necessidade de uma mudança de mentalidade que compreenda que os problemas do mundo estão interligados. É assinalada a importância de cuidar da vida e da Criação, valorizando a centralidade da pessoa humana e rejeitando a cultura do descarte.
É sugerida a valorização de tradições monásticas que ensinam a contemplação, a oração, o trabalho e o serviço, como forma de ajudar à educação para o equilíbrio pessoal, social e ambiental.
Em particular, é assinalada a tão falada “transição para energias disponíveis para todos” sublinhando a “eficiência energética” e alertando para a necessidade de transportes menos poluentes:
“É preciso promover transportes menos poluentes, tendo em consideração não só o combustível, mas também o ciclo de vida dos veículos” – podemos ler no documento do Vaticano que também assinala preocupações com a habitação e o trabalho denunciando “novas formas de escravatura”.
São precisos novos estilos de vida mais saudáveis, mas também “economias ecologicamente mais sustentáveis”. Economias que sejam inclusivas e que respeitem os pobres, marginalizados e pessoas com deficiência.
Economia de Francisco
Recordemos que na própria Encíclica “Laudato Si”, o Papa Francisco pede diálogo entre política e economia a nível internacional e não poupa um juízo severo aos líderes mundiais relativamente à falta de decisões políticas a nível ambiental. Propõe uma nova economia mais atenta à ética.
Como consequência concreta desta necessidade de diálogo entre política e economia e a construção de uma economia mais ética, foi lançada a iniciativa “Economia de Francisco” que deveria ter acontecido em março passado e que, devido à pandemia, teve que ser adiada para o próximo mês de novembro.
Decorrendo em ano especial “Laudato Si”, a “Economia de Francisco” terá lugar na cidade italiana de Assis e deverá reunir mais de 2 mil jovens de 115 países, incluindo Portugal. Entretanto, o evento foi reorganizado e os participantes estão a preparar o evento através de uma plataforma digital com o objetivo de se encontrarem presencialmente em novembro.
O Papa Francisco convida para este encontro de Assis jovens empreendedores e jovens economistas que desejam fazer um pacto, no espírito de S. Francisco, procurando construir uma nova economia, que seja viável e ética, socialmente justa e sustentável a nível ambiental. Um verdadeiro compromisso para o futuro.
Compromisso ambiental
A propósito de compromisso é importante assinalar as medidas concretas do próprio Estado da Cidade do Vaticano para a defesa do ambiente: recolha seletiva de resíduos e reciclagem; proteção dos recursos hídricos; cuidado de áreas verdes e controlo do consumo de recursos energéticos.
Como exemplos deste compromisso, em 2008 foi instalado um sistema fotovoltaico no telhado da Sala Paulo VI e os novos sistemas de iluminação LED na Capela Sistina, na Praça de S. Pedro e na Basílica do Vaticano reduziram os custos em 60, 70 e 80 por cento, respetivamente.
As dioceses de todo o mundo procuram, assim, dar expressão concreta a estes desafios ambientais. Por exemplo, em Portugal no início deste mês de julho a diocese do Porto, seguindo o espírito da Encíclica Laudato Si, inaugurou um conjunto fotovoltaico no topo da Casa Diocesana. Um complexo de 530 painéis solares com uma capacidade instalada que poderia alimentar 50 habitações familiares. E, assim, uma estrutura dedicada à pastoral, à formação e ao acolhimento transforma-se também num local de reconversão energética e de responsabilidade ambiental.
Em Portugal, segundo informa a Agência Ecclesia, existem outros exemplos da aplicação da Encíclica Laudato Si: A Casa Velha – ecologia e espiritualidade, é um centro de retiro e formação para experimentar a conversão ecológica na relação com Deus, com o outro e a natureza e também a Rede Cuidar da Casa Comum, criada em 2017 para difundir a Laudato Si unindo várias instituições cristãs.
Laudetur Iesus Christus