“Veio morar entre nós” foi o tema da terceira e última pregação de Advento do pregador da Casa Pontifícia, cardeal Raniero Cantalamessa, ao Papa e à Cúria Romana, na manhã desta sexta-feira, 18, na Sala Paulo VI.
Na memorável mensagem “Urbi et orbi” de 27 de março passado na Praça São Pedro, após ter lido o evangelho da tempestade acalmada, o Santo Padre se perguntava em que consistia a “pouca fé” que Jesus censurava nos discípulos. A seguir, o frei capuchinho disse:
“Eles não tinham entendido quem era que estava com eles no barco; não tinham entendido que, com ele dentro, o barco não podia afundar porque Deus não pode perecer. Nós, discípulos de hoje, cometeremos o mesmo erro dos apóstolos e mereceremos a mesma reprovação de Jesus se, na violenta tempestade que se abateu sobre o mundo com a pandemia, nós nos esquecêssemos que não estamos sós no barco e à deriva nas ondas.
A festa do Natal nos permite alargar o horizonte: do mar da Galileia ao mundo inteiro, dos apóstolos a nós: “E a Palavra se fez carne e veio habitar entre nós” (Jo 1,14). O Filho de Deus desceu sobre esta terra e Deus não pode perecer.
“Deus está conosco”, isto é, está do lado do homem, é seu amigo e aliado contra as forças do mal. Devemos reencontrar o significado primordial e simples da encarnação do Verbo, para além de todas as explicações teológicas e dos dogmas construídos sobre ela. Deus veio habitar em nosso meio! Quis fazer deste evento o seu nome próprio: Emanuel, Deus-conosco. O que Isaías profetizara, “A virgem ficará grávida e dará à luz um filho, e lhe porá o nome de Emanuel (Is 7,14), tornou-se fato realizado.
“Deus é amor, por isso é humildade! O amor cria dependência da pessoa amada, uma dependência que não humilha, mas torna felizes. As duas frases “Deus é amor” e “Deus é humildade”, são como dois lados da mesma moeda”, disse o frei Cantalamessa. Mas o que significa a palavra humildade aplicada a Deus e em que sentido Jesus pode dizer: “Aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração” (Mt 11,29)? A explicação é que a humildade essencial não consiste no ser pequeno (pode-se ser pequeno sem, de fato, ser humilde); não consiste no considerar-se pequeno (isso pode depender de uma má ideia de si mesmo); não consiste em proclamar-se pequeno (pode-se dizê-lo sem crê-lo); consiste em fazer-se pequeno e fazer-se pequeno por amor, para elevar os demais. Neste sentido, realmente humilde é somente Deus”, disse o frei capuchinho.
O Natal é a festa da humildade de Deus. Para celebrá-la em espírito e verdade, devemos nos fazer pequenos, como devemos nos abaixar para entrar pela porta estreita que dá acesso à Basílica da Natividade em Belém.
O “sacramento” da pobreza! São palavras fortes, mas fundamentadas. Se, de fato, pelo fato da encarnação, a Palavra, em certo sentido, assumiu cada homem (assim pensavam alguns Padres gregos), pelo modo em que ela se realizou, ele assumiu, em um título todo particular, o pobre, o humilde, o sofredor. “Instituiu” este sinal, como instituiu a Eucaristia. Assim, aquele que pronunciou sobre o pão as palavras: “Isto é o meu corpo”, pronunciou as mesmas palavras também sobre os pobres.
O frei Cantalamessa concluiu a sua pregação com as seguintes palavras: “Ó Rei das nações. Desejado dos povos; Ó Pedra angular, que os opostos unis: Oh, vinde e salvai este homem tão frágil, que um dia criastes do barro da terra!”. Vinde e reerguei a humanidade extenuada pela longa prova desta pandemia.
Fonte: Canção Nova
Em 22 de janeiro proximo, durante uma cerimonia online, o pregador da Casa Pontificia, Raniero Cantalamessa – criado cardeal no dia 28 de novembro passado – recebera o Premio CEU Angel Herrera pela “Difusao da Cultura Catolica”. O premio, promovido pela Associacao Catolica de Propagandistas por meio da Fundacao Universitaria CEU San Pablo, reconhece ao religioso capuchinho “a grande missao realizada no decorrer dos anos no reconhecimento da importancia da Palavra de Deus, do seu interesse na prossecucao da unidade dos cristaos e do seu arduo trabalho de dialogo entre as religioes”.